quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Pesadelos diários.

Abro os olhos assustada e vejo que estou presa a uma cadeira. A sala em que me encontro está lotada, mas eu não reconheço nenhum daqueles rostos. São todos estranhos, que não estão me vendo. Começo a ficar nervosa e grito, pedindo que me ajudem. Mas os estranhos continuam suas conversas, sem perceber meus gritos. Eles também não podem me ouvir. Eu preciso de uma única coisa para me libertar, mas ninguém está disposto a me ajudar. Ninguém sequer se dá conta da minha presença ali. Lágrimas de desespero escorrem pelo meu rosto, enquanto o tempo passa e eu continuo ali, com os braços presos à cadeira. O tempo passa, e minhas lágrimas aumentam quando me dou conta do que estou perdendo. Eu estou presa ali, sendo impedida de lutar pela coisa mais importante que eu tenho. Eu estou sendo impedida de lutar por mim. É a mim que eu estou perdendo, aos poucos, enquanto continuo presa. E a minha única salvação, está a quilômetros de distância, sem ter a menor ideia do que está acontecendo.
Sinto como se fosse uma queda, e abro os olhos, desesperada, para me dar conta de que estou em meu quarto, e aquele foi apenas o mesmo pesadelo de todas as noites se repetindo. Respiro fundo, me acalmando. Foi só um sonho ruim. Um sonho ruim que de certa forma é real, mas era apenas um sonho agora. Olho o relógio e me dou conta de que estou atrasada. Levanto, acendo a luz, e olho para a foto na parede com um suspiro. Tenho que começar a me arrumar, para a sala lotada onde ninguém ouve os meus gritos silenciosos de socorro.
No caminho começo a pensar, e então me dou conta do quanto as coisas mudaram. Escrever tornou-se uma coisa do passado. O tempo para ler acabou. O ânimo para sair se foi. E os amigos estão distantes, seguindo suas próprias vidas. Quando começo a relembrar das coisas, vejo o quanto preferia minha vida antes. Um ano atrás. A liberdade era menor, a pressão era maior e tempo era uma coisa que eu não tinha. Mas pelo menos eu sabia o que fazer. Pelo menos, eu sabia que se precisasse de apoio, era só olhar para o lado que encontraria braços estendidos, prontos para me acolher. E isso me dava forças para sair todos os dias da cama. Isso me dava motivos para sorrir. Porque eu sabia, que aonde quer que eu fosse com aquelas pessoas, me sentiria em casa. Sinto falta daquelas pessoas. Sinto falta de me sentir em casa.
Chego ao meu destino, e me sinto como um rato de laboratório, no meio de cientistas malucos, que me vêm como uma experiência que deu extraordinariamente errada. No meio de cientistas que não se dão conta do que realmente estou sentindo, e nem se importam. Os poucos que me enxergam me vêm como uma aberração, e só.
Olho para o lado, à procura dos braços estendidos. Mas agora, a única coisa que eu posso fazer é esperar que as coisas melhorem. Porque quando olho em volta, perdida, à procura de um rosto familiar, vejo apenas um mundo de estranhos. E pensar que tudo o que eu queria era me sentir em casa outra vez...

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Ps: Eu te amo.

Ela relaxou sobre o encosto da cadeira e contemplou pela janela o dia frio de janeiro, que fazia as árvores dançarem loucamente ao vento. Pensou no que havia aprendido, na pessoa que havia sido e na pessoa que se tornara. Era uma mulher que havia recebido conselho do homem que amava, que o havia seguido e tentado com todas as forças curar a si mesma. Agora, possuía um emprego que adorava e sentia-se confiante para buscar o que desejava.
Era uma mulher que cometia erros, que por vezes chorava nas manhãs de segunda-feira ou à noite sozinha na cama. Era uma mulher que freqüentemente ficava entediada com a própria vida e achava difícil levantar-se para o trabalho pela manhã. Era uma mulher que na maioria das vezes tinha dias ruins, que olhava no espelho e se perguntava por que não podia apenas se arrastar para a academia mais vezes, era uma mulher que de vez em quando detestava seu trabalho e se perguntava qual a razão para ter de viver neste planeta. Era uma mulher que simplesmente às vezes fazia tudo errado.
Por outro lado, era uma mulher com um milhão de lembranças felizes, que sabia o que era o verdadeiro amor e que estava pronta para experimentar mais vida, mais amor e construir novas lembranças. Se acontecesse em dez meses ou dez anos, Holly obedeceria a última mensagem de Gerry. O que quer que a esperasse dali para a frente, sabia que abriria seu coração e seguiria para onde a vida a conduzisse.
Nesse meio tempo, simplesmente viveria.

Ps: Eu te amo - Cecelia Ahern
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