domingo, 5 de setembro de 2010

Contentamento descontente.

A vida nem sempre é justa. Li isso em algum lugar hoje, não me lembro onde. A mais pura verdade, a vida raramente é justa. Foi quando cheguei a essa conclusão que as memórias começaram a voltar em minha mente, até o dia em que te conheci, e as lágrimas rolam pelo meu rosto. Você provavelmente esqueceu esse dia há tanto tempo, e eu ainda me lembro dos detalhes. Eu andava pela rua, como você falava mesmo? Ah sim, “Querida, você parecia estar pedindo pra ser atropelada. As pessoas normais olham por onde andam, sabia?”. Como eu sinto falta da sua voz me repreendendo. Mas onde eu estava mesmo? Ah sim, eu andava pela rua, e acabei trombando em você. Eu ainda consigo ver o susto em seus olhos quando nós dois fomos pro chão, e você tão preocupado em não me machucar. Foi quando eu me apaixonei. Você foi a primeira pessoa que se preocupou comigo de verdade. E eu não conseguia entender o por quê. Depois daquele dia nós não nos largávamos mais. Eu não conseguia mais viver sem seus cuidados. “Querida, cuidado com isso, você vai acabar se machucando. Solta, deixa que eu mexa nisso”. O modo como você falava comigo, como eu era tola, eu implicava quando você me chamava de querida. Eu não imagino você me chamando de outra forma. Até nas brigas, nas nossas poucas brigas, “Querida, cale a boca, você não sabe o que ‘tá’ dizendo”. E eu gritava mais e mais com você. Se eu soubesse o quanto sentiria falta, nunca teria pedido a você que partisse. Mas acho que não adiantaria, não é? E as nossas promessas? As promessas infantis que preenchiam nossas vidas de alegria. Eu lembro, e rio sozinha de como éramos ingênuos. Lembra? Você já deve ter esquecido, mas nós juramos que íamos ficar juntos pra sempre, que morreríamos juntos, como em um filme. E eu acreditava nisso. Nós prometemos que um dia voaríamos de asa-delta, juntos. Iríamos a Veneza. Lembra que nós prometemos nos casar na praia? Tantas promessas, e de todas, a única que conseguimos cumprir foi a de que esse amor nunca acabaria. Como dói lembrar que eu pedi pra você ir embora. Eu me sentia dependente de você, e eu tinha medo de não te fazer feliz como você merecia, tinha medo que você me deixasse e eu não conseguisse continuar. Então eu fui a pessoa mais imbecil desse mundo, e disse que não te amava mais, pedi que me deixasse. A dor de seus olhos me machucaram tanto, eu não sei como você pode acreditar em tamanho absurdo. Você não acreditou, eu sei que não, mas seus olhos, eles pareciam tão chocados. Eu nunca, eu jamais... Eu te amo e eu vou te amar pra sempre, independente de tudo o que aconteceu. “Querida, não fale besteiras. Você sabe que é só ao seu lado que eu vou ser feliz minha querida”. No fundo, eu esperava que você me dissesse que não iria, mesmo que eu pedisse, que eu implorasse. Não adiantaria não é? E você foi. Acho que você nunca vai saber o quanto me doeu vê-lo partir, ou vai, o quanto me matou por dentro ver você ao lado de outra, enquanto tudo o que eu queria era ter você ao meu lado, outra vez. Eu nunca poderia pedir a você que voltasse. Eu te pedi que fosse embora, eu não teria forças para pedir que deixasse sua felicidade e viesse se prender a mim outra vez, mesmo que fosse a única forma de eu ser feliz. E você parecia tão feliz, falando de como ela era carinhosa. Você sempre a chamava pelo nome, você nunca me chamou pelo nome. Eu devia ter dado algum valor a isso. Você parecia tão feliz, isso era suficiente pra mim. Querido, você sempre soube que eu não me importava muito com a minha felicidade, não é mesmo? “Minha querida, mas se você não for feliz eu não serei também, pense em você meu amor”. Eu sinto falta do som da sua voz, tentando me convencer de que tudo o que precisava era estar comigo. Eu sinto falta do seu abraço. Seu perfume. Eu fui tão estúpida. Queria estar contigo agora. Vocês iam se casar, eu lembro. Faziam questão de que eu participasse de tudo, e visse o quanto vocês dois eram felizes. Eu devia ter dado mais valor aos seus olhares. Então, aquela mudança. Telefone, celular, e-mail, seu apartamento, você não me respondia. Era como se você não quisesse falar comigo, não quisesse mais me ver. Isso foi tão cruel querido, eu tive tanto medo. E eu tinha que me contentar, apenas com aqueles e-mails diários: “Não se preocupe, está tudo bem querida”. Querida, sempre querida. Como isso me irritava. Só hoje eu posso ver que foi proposital. Você queria que eu me acostumasse à sua ausência, não é? Bobo, eu nunca me acostumaria. E apenas nas vésperas do seu casamento ela me ligou, dizendo que precisava me ver, urgente. Confesso que um traço de esperança se formou no meu coração, eu era tão burra, achei que você finalmente tinha se dado conta de que me amava, e tinha resolvido deixá-la. Eu, eu que deveria saber que você não seria capaz de tamanha crueldade com alguém. Mas foi tão inevitável, há tanto tempo eu sonhava em te ter de novo. E então o meu mundo, a minha esperança, tudo acabou. A vida não é nada justa. Ela não precisou dizer uma palavra, olhando para os olhos dela, naquele momento, eu vi meus sonhos desmoronando. Ela não precisou dizer nada, eu sabia, eu podia sentir. Eu devia ter dado mais valor aos meus sonhos, sonhos não, pesadelos. Eu devia ter dado mais valor aos meus pesadelos naquela noite, mas você mesmo sempre me disse que eles eram apenas sonhos. “Querida, são sonhos. Eu nunca vou deixar você sozinha, nunca, ‘tá’ me ouvindo bem?”. Era por isso, não era? Você sabia, e não queria que eu sofresse. Você não teria acreditado em todas as mentiras que eu falei, você sempre soube que eu te amava, mas você simplesmente não queria que eu sofresse. Ela não disse nada, apenas me entregou uma carta, e foi embora. E eu fiquei lá, foi você que pediu a ela que fosse lá, não foi? Só pode ter sido. Eu fiquei no restaurante, onde nós tínhamos prometido nunca nos deixar, aquele, simples, na beira da praia. Era lá que nós íamos sempre. Era o meu preferido. Só pode ter sido você quem pediu. Os dias ao seu lado eram tão completos, nada me faltava. E eu era feliz, naquela época eu era tão feliz. Eu não parava de tremer, e não tinha coragem de ler o que a sua carta dizia, mas eu precisava. Obrigada por ter pedido a ela que escolhesse a nossa mesa, aquela no canto, eu não suportaria que me vissem naquele estado. Quando eu consegui, finalmente, abrir a carta... “Querida, eu sempre te amei. Perdão por te fazer acreditar que eu construiria uma vida ao lado de outra, por fazer você sofrer tanto vendo a minha suposta felicidade. Eu tentei te dar sinais, mesmo querendo que você acreditasse na mentira, eu tentei. Você, sempre tão preocupada em esquecer-se de si mesma, não foi capaz de percebê-los. Eu sempre te amei, minha querida. Perdão por não ter te contado a verdade, eu não podia. A minha felicidade sempre foi a sua, você deveria saber disso. Quando você me pediu que partisse, foi tão oportuno, minha hora já estava chegando, eu precisaria ir de qualquer forma. Minha querida, não se preocupe, eu estarei bem se você estiver bem. Então, faça apenas uma coisa por mim: seja o mais feliz possível. Se você me esquecer eu vou entender, eu vou estar feliz por você. Seja feliz. Perdão meu amor, sei que talvez nunca me perdoe, mas perdão. Eu deveria ter cuidado de você, eu não podia ter me apaixonado, mas foi tão inevitável. Você não podia ter se apaixonado por mim. Você, sempre tão doce, carinhosa, sorridente, tão meiga. Não imagina como era difícil ver você fingindo estar feliz pela minha suposta felicidade. Você nunca me enganou, sua boba, e você sempre soube disso. Eu tentei adiar isso, eu tentei ficar ao seu lado pra sempre, mas eu nunca poderia. Perdão por ter feito tantas promessas, mesmo sabendo que não poderia cumpri-las. Perdão por ter deixado você me amar. Eu sempre te amei, essa promessa você pode estar certa de que eu me encarregarei de cumprir. Mesmo se eu não quisesse, eu te amaria. Seja feliz minha querida, e se você ainda quiser, eu estarei aqui te esperando, quando chegar a sua hora. Mas não se sinta presa, eu não suportaria ser o culpado pela sua infelicidade. Seja feliz, apenas isso, minha querida. Eu não podia mais adiar, eu tinha que voltar, aqui é o meu lugar. Mas eu sempre estarei contigo, sempre. Perdão, meu amor. Eu te amo, e eu sempre vou te amar. E nunca se esqueça, seja feliz. E agora, enxugue essas lágrimas, e dê uma volta na praia, o dia está lindo”. Desculpa por não ter conseguido enxugar as lágrimas, era impossível. A vida não é justa, eu queria ter você aqui comigo. Ela não é justa. Então eu tive que cumprir todas as nossas promessas sozinha. Não se sinta mal por isso, eu fui feliz meu amor, a cada vez que eu lembrava de você, eu era feliz. Foi você, o único motivo de eu ter aguentado por tanto tempo. Eu espero poder te encontrar logo, eu sinto muito a sua falta. Os anos passaram rápido. Sabe, você disse que sempre estaria comigo. Eu ainda sinto sua presença aqui, e isso me conforta. Querido, estou um pouco cansada, eu vou dormir. Até logo, te amarei pra sempre, meu querido.

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