segunda-feira, 13 de setembro de 2010

De pai para filho.

- Vovô, vovô! – meu filho pulou nos braços de meu pai, assim que o mandei pra dormir. – Me conta uma história? Por favor, vovô!
Meu pai o pegou no colo, rindo.
- Mas você sabe que eu só conheço uma, e você já ouviu várias vezes, moleque.
- Vovô, por favor, eu gosto dela. – Meu pai olhou para minha mãe, e o levou para o quarto. Vi minha mãe sorrindo apaixonada enquanto olhava os andando juntos.
Eu sabia em que ela estava pensando, era o mesmo que eu. Eu já havia visto aquela cena, por diversas vezes. Era eu ali, pulando nos braços de meu pai assim que minha mãe me mandava dormir.
- Papai, papai! Me conta uma história, por favor!
Era sempre a mesma história, mas eu podia ouvi-la quantas vezes fosse, ainda assim me fascinaria.
Minha mãe sentou-se ao meu lado, despertando-me das lembranças.
- Então o tempo passou, e eu estou ficando velha! – disse ela, em tom de brincadeira. – Não sei como vocês não enjoam.
- Você não enjoou até hoje, mamãe. – ela sorriu, e seus olhos brilharam. O mesmo brilho de sempre.
- É, talvez ela seja mesmo interessante.
Lembro-me de quando ainda acreditava que era apenas mais uma história. Exatamente como meu filho deve pensar hoje. Eu tinha seis anos de idade, e pedia todas as noites para meu pai me contar uma história.
Deitava-me na cama, e esperava impaciente que os dois viessem logo. Eles deitavam sempre um de cada lado meu, e então papai começava a falar. Ele sempre olhava para a mamãe enquanto falava, e os olhos dela salteavam entre nós dois.
Às vezes eu fechava os olhos antes, só para ver o que eles faziam. Papai continuava falando, sem perceber, até que mamãe soltava um riso abafado, e ele finalmente me olhava.
Quando viam meus olhos fechados, eles beijavam minhas bochechas ao mesmo tempo, e então davam um beijo rápido. Assim que eles levantavam da cama eu abria um pouco os olhos para vê-los saindo, abraçados, do quarto.
Mamãe sempre dava uma última olhada para mim, quando ia apagar a luz. Então papai puxava sua mão, e eu finalmente adormecia.
- Sabe mamãe, às vezes eu fingia dormir, só para ver o que vocês faziam.
- Eu sei. – disse ela, olhando para o nada. – Assim como sei que é provavelmente isso que seu filho está fazendo agora.
Eu sorri, e nós dois saímos da sala e fomos para o quarto do meu pequeno. Papai estava lá, falando sozinho, enquanto meu filho estava de olhos fechados. Fiquei parado à porta, enquanto mamãe ia até a cama.
- Sempre o mesmo. – ela sussurrou, sorrindo.
Papai olhou para ela, e então olhou para meu filho, balançando a cabeça.
- Acho que sim. – disse ele, contrariado.
Ela se abaixou, e eles fizeram como anos atrás, beijando as bochechas do meu filho.
Eu nunca havia visto a cena por aquele ângulo. Eles andavam apaixonados saindo do quarto, enquanto eu esperava à porta. Assim que chegou à porta ela se virou, apagando a luz. E então eles me surpreenderam com o típico beijo duplo.
Desde que descobri que a história que tanto me fascinava, era a de meus pais, sonhei em viver um amor assim. Em que mesmo depois de mais de 40 anos, a forma de olhar continua a mesma. O amor continua o mesmo.
Quem sabe eu tenha essa sorte e ainda nem saiba. Mas acho que a história de meus pais ainda é mais interessante, é ela que fascina meu filho.
Os dois se despediram e foram embora, enquanto eu ia para perto de minha esposa. Talvez eu tenha essa sorte, não sei se tão grande como os meus pais, eles provavelmente são uma raridade.

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